Natação

O meu início na natação

A primeira vez que entrei na água...

Seguiram-se largos meses de contínua fisioterapia e um dia o meu médico fisiatra propôs-me fazer natação. Fiquei absolutamente desnorteada, não imaginava como iria conseguir tal proeza, não tendo força nas pernas...Achei sempre que me iria afogar, ou coisa do género... Fui saber onde me poderia inscrever para fazer natação e ter apoio de uma professora, que estivesse comigo para me orientar e para me ajudar se tal fosse necessário...

Claro que eu achava que iria ter que ter apoio constante...

Não imaginava como conseguir voltar a nadar... Era tudo tão estranho e novo...

Estava extremamente ansiosa para saber como se iria processar esta nova etapa...

Tratei logo de ir com a minha mãe às compras e comprar um fato de banho...

Nova etapa para enfrentar, novo ciclo de vida, encarar mais esta etapa, como uma derradeira aventura, em que teria de dar o meu máximo na minha recuperação...Finalmente o tão ansiado dia... iria ter novamente a sensação de estar dentro de água e sentir-me novamente livre...Ao entrar na zona dos balneários senti um aperto, novamente aquela incerteza. Como iria conseguir nadar sozinha? Será que vai ser a mesma coisa? A mesma sensação que sentia antes? Um sem fim de perguntas que rolavam no meu pensamento, como um filme interminável e a ansiedade começava a incomodar-me...A minha mãe estava comigo, mais uma "guerreira", só podia ser mesmo filha deste ser humano surpreendentemente batalhador e sensível...A minha adorada Mãe...Que esteve sempre presente comigo em todas as etapas que vinha a percorrer...Vesti o fato de banho, peguei na minha toalha e dirigi-me à piscina...Com a ajuda da minha mãe e da professora (que pegaram em mim e me sentaram na beira da piscina), consegui entrar na água...Chegava o momento em que as minhas dúvidas e questões se iriam dissipar...Seria capaz de voltar a nadar? Sim, não, talvez...Completa emoção...Nas primeiras aulas, comecei por fazer alguns exercícios nas pernas para tentar fortalecer os músculos...não me atrevia a nadar...achava que me iria afogar...Seguiram-se mais algumas semanas de natação e a professora colocou-me uma espécie de bóia há volta da cintura para tentar nadar...Comecei aos poucos a tentar nadar... devagarinho e a medo, lá me ia afastando da berma da piscina e estava a conseguir dar umas braçadas...mas o verdadeiro teste era nadar sem qualquer apoio e sozinha...Passaram-se mais algumas semanas e o verdadeiro teste chegou...largar os apoios e tentar nadar sozinha...A pouco e pouco essa espécie de milagre foi-se dando...Metro a metro eu estava a conseguir...já não necessitava de ajuda, nem de apoios e a alegria era imensa...Completa sensação de bem-estar e de liberdade...Começava a surgir aos poucos uma nova paixão...A natação... Mais uma espécie de milagre (com muita perseverança e esforço)...Fazer exercício dentro de água é sem dúvida fabuloso, é um misto de realização pessoal e um novo lar...onde queria passar parte do meu tempo...tentar nadar cada vez melhor e sentir-me livre e activa...simultaneamente fazia fisioterapia...era bastante cansativo, mas era necessário e estava sem dúvida a fazer-me muito bem...Mais uma etapa superada e estava realmente a sentir-me muito bem comigo mesma...Foram-se embora os medos, as angústias e sentia-me livre outra vez...Não era por andar de "cadeira de rodas", que tinha que me sentir infeliz...Afinal ainda há muito por descobrir…Esta etapa foi deveras importante para voltar a ter um sorriso genuíno e feliz...

 

Passaram-se mais alguns meses e já conseguia nadar totalmente sem receios nem medos… Literalmente nadar, que é uma coisa que eu achava impensável, visto não conseguir andar…Entrava na piscina e sentia um novo mundo, onde era completamente livre… Não necessitava da ajuda de ninguém e onde me sentia absolutamente relaxada e feliz…

Quando me inscrevi no curso de Secretariado/Design Gráfico, surgiu a oportunidade de continuar a fazer natação de manutenção. Disse logo que sim, porque desde tenra idade com 3 anos aprendi a nadar sozinha numa pocinha de água no mar. Não me recordo muito bem, mas sempre fui tipo peixinho, ligada ao mar e a água…

Numa actividade da Cercigui (passeio ao rio de Adaúfe), mais uma vez aliciaram-me para entrar dentro de água com colete claro.

Nunca mais esqueci aquele dia, foi pura adrenalina…ainda era novata em desporto de água fora da piscina. Mas aceitei de imediato, tal é a minha paixão por água.

Colocaram-me um colete para não correr qualquer tipo de risco e vejam o resultado…

 

A cara de felicidade era imensa.

Mais uma vitória e como peixe na água…sentia-me feliz. Afinal nem tudo estava perdido, nem tudo eram espinhos e eu de uma outra forma, podia continuar a realizar as actividades que outrora me enchiam a alma de paixão e leveza…

Nadar, nadar, nadar…

É sem dúvida uma grande vitória ter conseguido chegar até aqui.

Continuei a participar nas actividades de piscina do Centro de Reabilitação e Formação Profissional da Cercigui e aos poucos fui nadando cada vez melhor e melhor e um dia o Professor Eduardo a quem eu agradeço desde já do fundo do coração por todo o apoio, fez-me uma proposta.

Vou-te lançar como atleta…

Senti medo, orgulho, incerteza…

Pensei:

“Serei capaz?”

E acreditei que sim.

Treinava inicialmente 3 vezes por semana no final do curso (às 18:30) na piscina dos Bombeiros de Guimarães, que se tornou durante muito tempo a minha terceira casa.

Depois comecei a ter treinos diários e sempre que ia em competição era uma festa, porque a equipa de natação adaptada só tinha dois atletas inicialmente. A Sara Coutinho e o Daniel Antunes.

Era cómico, porque não tínhamos apoios quase nenhuns e a bem da verdade competíamos mesmo por amor há camisola.

Mas não me arrependo de nada, porque tornou-se numa experiência fabulosa.

Competir, no início... sentia um  nervoso miudinho sempre há flor da pele, e o Prof. Eduardo dizia:

“Controla-te mulher, vai correr bem”…

E correu sempre bem. Valia pelo convívio, pela experiência e ao fim de pouco tempo os resultados começaram a aparecer.

Competi durante algum tempo. Cerca de 5 anos.

O resultado foi este:

Amei a experiência e como integração social foi fabuloso.

Conhece-se gente de todo o país, com as mais diversas deficiências... É sem dúvida um manual de sabedoria. Porque aprendemos a ouvir, acabamos por trocar experiências, opiniões, que acabam por ser basicamente um manual de aprendizagem a nível pessoal e de vida.

Através do desporto pode-se incentivar as pessoas com deficiência a ter uma maior qualidade de vida.

Rompendo a solidão que por vezes impera, tornando-as mais activas e de alguma forma felizes por se sentirem de novo integradas socialmente.

Foi isso que senti, que através do desporto ganhei maior auto-estima, ajudou-me sobretudo a relaxar e a pôr de lado sentimentos negativos de angústia que me assolavam a alma por causa do acidente.

Senti que o desporto foi uma grande rampa de lançamento para eu ter uma vida mais saudável a nível físico e psicológico.

O ser humano é adaptável a qualquer situação, mas temos que ser nós os primeiros a querer fazer a diferença, para que as barreiras fisícas e psicológicas se tornem menos incapacitantes na nossa vida e com o passar do tempo muitas delas possam desaparecer…

 

Sara Coutinho


PROJETO sobre:

 

  1.  HISTÓRIA VIDA

  2.  REABILITAÇÃO

  3.  INCLUSÃO SOCIAL 

 

História do Projeto

Nasce de um sonho... Acaba numa vontade.